segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

São Paulo Apóstolo – Patrono do MCC

Nota: o presente relato feito por um dos fundadores do Movimento de Cursilhos, Pe.Sebastìàn Gayá, está publicado num trabalho de Pe.Loyola Gagné, Secretário do MC Francófono do Canadá – M.C.F. – intitulado “Survol historique du MCC – sa genése e son expansión – 1944/1999″. Pe. Beraldo traduziu do original francês.
Antes de abordar a terceira parte deste trabalho, penso que seria bom relatar de que forma São Paulo tornou-se oficialmente o Patrono do Movimento. Esta história foi escrita pelo próprio Pe. Sebastián Gayá. Eis a tradução de seu texto.
No início
“Devo confessar, com muita sinceridade, que aqueles que a Providência escolheu para empreender a grande aventura dos Cursilhos jamais pensaram que o Movimento teria um patrono ou protetor celeste que nos servisse de intermediário diante do Pai. O caráter eminentemente cristocêntrico do Cursilho poupava-nos, no início, de tal preocupação. Poderia até parecer inconveniente sair em busca de um intermediário, no momento em que o cursilhista entrasse no seu quarto-dia totalmente centrado na figura de Cristo, com o qual deveria manter uma relação direta, imediata, íntima e pessoal.
Permitimo-nos somente recorrer à intercessão maternal de Maria, que desde os primeiros instantes de nossa história ocupou um lugar privilegiado na devoção cursilhista. Juntar qualquer outro intercessor seria como ultrapassar as fronteiras do fundamental no cristianismo.
E, se nos sugerissem escolher um santo protetor, seria bem possível que São Paulo não encabeçasse a lista… Não por ignorar o fato de que a figura do Apóstolo, evangellzador dos pagãos, se destacasse entre todas no clima de evangelização no qual surgira o MCC. Mas, provavelmente, teríamos pensado em buscar outras candidaturas. São João, por exemplo, o apóstolo jovem, aquele da invencível fidelidade, como era chamado no curso da vigília de oração que fazíamos, a cada ano, no dia 27 de dezembro, no tempo em que o Movimento era dedicado exclusivamente aos jovens. Sem falar do grande São Tiago, o apóstolo venerado em Compostela, onde aconteceu a peregrinação dos 100.000 jovens da Ação Católica e cuja mística serviu como caldo de cultura para o nascimento dos Cursilhos. Mas isso são apenas hipóteses… A verdade é que ninguém, entre os fundadores, suscitou a questão de um padroado para o MCC. Bem que a gente sentia a necessidade de ter apoios, pois os primeiros passos do Movimento – como, aliás, também os segundos! – foram marcados por dificuldades e sofrimentos enormes. O joio haveria de aparecer constantemente no campo do trigo. Mas esse é o selo evangélico das obras divinas, conduzidas pelo Espírito Santo”.
De onde surgiu, então, a idéia?
“É preciso voltar no tempo, a dez ou doze anos antes do primeiro Cursilho celebrado em janeiro de 1949. O MCC espalhou-se por todas as dioceses da Espanha, em quase todos os países da América e, menos rapidamente em certas partes da Europa. No início dos anos sessenta começou-se a criar os secretariados nacionais: o primeiro no México, em seguida na Venezuela e, pouco depois, na Espanha. Foi no dia 12 de junho de 1962 que os bispos erigiram nosso Secretariado nacional espanhol, nomeando D. Hervás o primeiro diretor do Secretariado, e o autor destas linhas vice-diretor. Entre as tarefas empreendidas por aquele primeiro Secretariado Nacional (como o reencontro de animadores espirituais em Valle dos Caídos), destacou-se a organização da primeira Ultréia nacional, celebrada em Tarragona. E por que nessa cidade? Por várias razões. Em primeiro lugar, 1963 foi um ano jubilar durante o qual a Igreja da Espanha comemorou o 1900º aniversário da vinda de São Paulo a esse país. E esse jubileu foi festejado precisamente em Tarragona. Em segundo lugar, o bispo dessa cidade era o Cardeal Arriba y Castro ao qual D.Hervás referiu-se, no decorrer da Ultréia, como “o cardeal de São Paulo e pai dos Cursilhos”. Isto para reconhecer publicamente e agradecer ao cardeal por se ter levantado para defender o Movimento no decurso dos anos anteriores, testemunhando, em alto e bom som, “os frutos espirituais que ele descobrira nas pessoas que tinham vivido a experiência dos Cursilhos”. O terceiro motivo foi, enfim, a força numérica dos cursilhistas naquela diocese.”
O que aconteceu na Ultréia Nacional?
“Quando de sua alocução, na clausura, D. Hervás assim se expressou: Ouvi dizer, pela boca de pessoas autorizadas (a do Núncio apostólico), que se São Paulo voltasse, far-se-ia cursilhista. Isto me parece muita honra para o nosso Movimento e a pessoa que disse isso manifesta um grande coração. Mas eu diria, muito humildemente, que se São Paulo voltasse a caminhar sobre as terras de Espanha para pregar o Evangelho, aqueles que o seguiriam com maior entusiasmo seriam os cursilhistas! E, abrindo seu coração à esperança, D.Hervás acrescentou: É por isso que eu gostaria que a autoridade competente nos concedesse o padroado de São Paulo sobre o nosso Movimento, padroado esse fortemente desejado por aquele mesmo que tanto amou e defendeu os Cursilhos, o Cardeal Arriba y Castro. Tendo cessado os aplausos, esperava-se avidamente a intervenção do cardeal. Não só por causa de sua posição mas, sobretudo, por causa de suas brilhantes intervenções junto às Congregações romanas e mesmo diante do Santo Padre para defender o Movimento. Em sua alocução, o cardeal imediatamente levantou o véu sobre aquilo que fora um segredo muito bem guardado: ele já havia iniciado em Roma, os procedimentos a esse respeito!”
O cardeal e Paulo VI
“No decorrer de uma audiência com Paulo VI, o cardeal lhe havia contado as maravilhas que o Senhor operara no mundo todo através dos Cursilhos e seu desejo de colocar São Paulo à testa desse empreendimento de evangelização. Paulo VI teria escutado atentamente e o teria convidado a redigir o pedido oficial. O cardeal empenhou-se para obedecer ao desejo do Papa, pois estava fortemente fascinado pela figura do Apóstolo dos Gentios, valorizado agora pelas festas de Tarragona. E estava, também, convencido de que os Cursilhos estavam sendo, para muita gente, aquilo que havia sido o caminho de Damasco para Paulo. Essa comparação viera-lhe ao espírito quando um operário lhe confessara o seguinte: “Foi no Cursilho que minha vida mudou, mas não foram as palavras dos ‘rollistas’ que operaram o milagre. Foi durante uma fração de segundo , no momento em que senti minha alma mudar, que eu perguntei: Quem és tu, Senhor? E ouvi, então, claramente: Eu sou Jesus! Então não poderia ter feito outra coisa senão perguntar-lhe: Que queres que eu faça?”. Esse relato, lembrando sem equívoco a conversão de Paulo, impressionou o cardeal. Naquele mesmo dia ele prometeu fazer tudo para obter de Paulo VI a proclamação do Apóstolo como protetor de todos aqueles que, no decorrer do Cursilho, reencontrassem seu caminho de Damasco. O cardeal terminou sua alocução dizendo: “Paulo, o convertido de Damasco, será o centro do interesse, do amor, de toda a vida do cursilhista. À luz de Cristo, ele ajudará a resolver todos o problemas e, por sua graça, ele fará nascer nos coracões o desejo de estender o Reino de Deus até os confins do mundo”. Essas palavras foram acolhidas por uma vibrante e interminável ovação”.
O momento tão esperado
“Cinco meses mais tarde, no dia 14 de dezembro de 1963, Paulo VI assinaria um decreto pontifício de 27 linhas, redigido em latim e começando pelas palavras Viget salubriter, que poderia traduzir-se pela expressão: “uma feliz floração…”. Ali pode-se ler, entre outras coisas: “Em Roma, junto de São Pedro, depois de madura reflexão e com a plenitude de Nossa autoridade pontifícia, nomeamos e declaramos o bem-aventurado Apóstolo Paulo, celeste patrono diante de Deus do Movimento de Cursilhos”. Paulo VI, 14 de dezembro de 1963″. O pergaminho original, escrito a mão, foi entregue pessoalmente a D.Hervás pelo Núncio Apostólico, Monsenhor Riberi, que pronunciou uma curta alocução: “Eu já disse que se São Paulo voltasse, seria cursilhista. Na verdade eu quis dizer também que São Paulo é o protótipo do verdadeiro e autêntico cursilhista. Quero dizer com isso que, através da eminente figura de Paulo, as pessoas que viveram a experiência do Cursilho, hão de encontrar um modelo de vida, de ação e de espiritualidade do qual elas terão necessidade para perseverar e progredir no caminho que iniciaram na manhã do seu quarto dia”. As horas sombrias da perseguição ao MC já eram, então, coisa do passado. Com efeito, Paulo VI, no decreto, referia-se aos “frutos tão abundantes produzidos pelo Movimento que encheram de satisfação os pastores”. O bispo de Cadiz afirmou que essa foi a primeira aprovação oficial do MCC por parte do Vigário de Cristo; o bispo de Lérida não cessava de afirmar sua “indizível alegria por este presente da Providência”; quanto ao bispo de Salamanca chegou até a dizer que este decreto alçava o MC ao primeiro lugar na renovação cristã empreendida pelo Concílio”.
À guisa de conclusão
“Ao entregar o pergaminho a D.Hervás, Monsenhor Riberi terminou a entrevista com esta simples invocação “São Paulo, patrono dos Cursilhos, rogai por nós!” D.Hervás aproveitou a ocasião para sugerir que todas as nossas reuniões terminassem com essa curta oração, pela qual exprimimos nossa confiança na intercessão de nosso protetor diante de Deus. Nós, fundadores que tanto havíamos sofrido por causa do Movimento, fomos amplamente recompensados por esse gesto de Roma!”.
São Paulo o primeiro inculturador do Evangelho
Paulo é uma das figuras mais importantes do Novo Testamento. O Livro dos Atos dos Apóstolos e as Cartas que escreveu nos revelam sua vida, e a experiência de Deus processada no seu existir.
Nasceu na cidade de Tarso, na Cilícia, e foi criado na mais genuína tradição judaica. Ainda muito jovem mudou-se para Jerusalém, e foi um grande estudioso de sua religião. Participava do grupo dos fariseus, e extremamente zeloso no cumprimento da lei judaica, perseguiu cristãos.
Passa por um longo e fascinante processo de conversão que culmina com um não menos fascinante assumir de sua missão.
O novo na sua ação evangelizadora é que saí do círculo dos judeus e se volta aos pagãos. Põe-se a caminho, a anunciar o Evangelho em realidades diferentes daquelas em que Jesus de Nazaré viveu. Torna-se assim o primeiro grande inculturador do Evangelho. Falava de forma diferente a judeus e prosélitos (At 13,16-41) aos camponeses pagãos (At 14,15-17) ou aos intelectuais de Atenas (At 17,21-31). Faz o cristianismo passar de uma cultura para outra: da cultura semita para a greco-romana.
Enfrentou sérias dificuldades, pois pelo fato de não ter conhecido nem andado junto com Jesus, tentaram impedi-lo de evangelizar, dizendo que não era apóstolo. Porém, nada disso o afasta do que tinha se tornado razão de sua vida: “Anunciar o Evangelho não é um título de honra para mim, pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Aí de mim se não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,17).
Fez três grandes viagens. Semeou comunidades por onde passou e isso não o impediu de se sustentar com seu trabalho. Foi um trabalhador que também evangelizava.
Mirar-se em Paulo é um desafio para nós. Evangelizar, enquanto trabalhador ou trabalhadora, é um ideal. O mundo urbano, os nossos ambientes estão ávidos de esperança e de coerência. Paulo é um grande exemplo para toda Igreja, e em especial para o Movimento de Cursilhos. Inculturar a fé significa respeitar as diferentes culturas, entendendo que o diferente enriquece, e que na diversidade também se serve o Senhor, eis a questão de nosso tempo!
(Extraído do “Peregrinando com Cristo”)
São Paulo Apóstolo foi declarado Patrono Celestial do Movimento de Cursilho de Cristandade pelo saudoso Papa Paulo VI, na Ultreya Nacional realizada em Tarragona, por ocasião do ano Santo Paulino no dia 07 de julho de 1963, a pedido dos cursilhistas.
Transcrevemos a seguir o discurso de Paulo VI onde encontramos esta designação.
Papa Paulo VI
Para perpétua memória
Floresce felizmente na Espanha e em outras partes do mundo, um movimento apostólico ou escola de espiritualidade cristã, que tem por finalidade a que os seculares, com ajuda da graça Divina, cultivem a vida espiritual, conheçam mais profundamente a Cristo e a sua doutrina, acorram com freqüência à fonte sobrenatural dos sacramentos, se preocupem com o bem do próximo e prestem sua colaboração aos que exercem o sagrado ministério.
Este método de ensino cristão, comumente chamado “Cursilhos de Cristandade”, que se estende já a grande número de fiéis, tem produzido abundantíssimos frutos: renovação cristã da vida familiar de conformidade com a lei divina, vitalização das Paróquias, fiel observância dos deveres tanto privados como públicos de conformidade com os ditames da consciência. Tudo isso, encheu de grandíssima satisfação aos Bispos e aos, demais Pastores de almas.
E não seria justo deixar passar sem referência as fileiras dos que militam sob a bandeira de Cristo na associação de Ação Católica que receberam grande incremento com os novos elementos que lhes proporcionou este método de formação cristã; e que muitos deles abraçaram o sacerdócio ou, abandonando o mundo, se consagraram a Deus na vida religiosa. Todos eles reconheceram como modelo a imitar e como protetor a quem recorrer ao Apóstolo São Paulo, de cuja vinda a Espanha se celebra agora o 19º Centenário; comemoração solene na qual os “Cursilhistas de Cristandade” tiveram uma participação muito destacada.
Por desejo expresso dos Cursilhistas, em nome dos Bispos e em seu próprio nome, nosso amado Filho Benjamin de Arriba y Castro, Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, Arcebispo de Tarragona, nos suplicou que declarássemos ao Apóstolo das gentes Patrono celestial desta nova forma de apostolado secular.
Acedendo com muito gosto a esta petição, após prévia consulta à Sagrada Congregação dos Ritos, Nós, de ciência certa e depois de madura reflexão, com a plenitude de Nossa autoridade apostólica, por meio destas Letras perpetuamente nomeamos, constituímos e declaramos ao Bem-aventurado Apóstolo Paulo Patrono Celestial perante Deus deste apostolado de seculares ou método de espiritualidade cristã, conhecido pelo nome de “Cursilhos de Cristandade”, com todas as honras e privilégios litúrgicos devidos a tal título, sem que nada obste em contrário.
Assim o decretamos e dispomos, ordenando que estas Letras sejam e permaneçam sempre firmes, válidas e eficazes; e que produzam e obtenham plena e integralmente todos os seus efeitos; e que beneficiem agora e no futuro a todos aqueles a quem se referem ou a quem se possam referir; e assim deve ficar entendido e definido; considerando-se nulo e sem valor quanto, consciente ou inconscientemente, se intentar contra estas Letras por parte de qualquer autoridade.

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